sexta-feira, 26 de setembro de 2008

OROBOROS - O CICLO DO CÍRCULO

Cada pensamento que vinha na cabeça era uma forma de trabalhar com o todo. Os barulhos que se manifestavam ao seu redor motivavam- no a escrever, o respirar, atuar.
As dúvidas que apareciam, franzia a testa, o salivar amargava, os tendões enrijeciam, a garganta arranhava, o olho fechava, a posição na cadeira incomodava. Apenas a observação alheia, os toques de teclas, os falares de alguém ao longe.

Lá fora chove.
O dia está no fim, ou quase, muito para ser feito, muito para pensar, muito de tudo aquilo que pode ser feito e talvez não seja.

Interrupção.

Celular toca, apontamentos para o fim de semana, sétimo dia, bem cedo, contando que o primeiro sempre será domingo, festa, alguém que fará parte de um todo, o qual já pertence desde que existe.
Hoje, agora, daqui a pouco, mais tarde, noite, noite, sono, outro dia... O sétimo.
Ainda não o é, será, nascerá amanhã, só amanhã de manhã. Reencontros.
Conversas, riso e choro, paradoxos, antíteses diárias, e tudo voltará ao que era, transformando o novo em velho, o presente em passado, continuamente, incessantemente.
E assim virá o primeiro dia, onde Deus começou tudo. Que deixou de ser primeiro faz tempo, pois o primeiro foi o primeiro.
O agora passa, passou, passará sempre, e transforma-se em depois, e depois, e depois, correndo, correndo, até chegar no sétimo novamente, que nem sempre será sétimo, poderá ser "vigésimo sétimo", e o círculo se fechará e se abrirá na constante inconstância do Todo.
Abre-se o olho, fecha-se o olho, até o último sono. Onde nos perderemos nele, eternamente, seja claro, escuro, frio ou quente.
E nesta caminhada onde as letras se juntam, onde os sentidos são construídos e destruídos, o eterno círculo viverá eternamente, sua eterna dúvida.

ADRIANO EMERICK

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

ROMEU E JULIETA - DISSECADOS

Romeu e Julieta (The Most Excellent and Lamentable Tragedy of Romeo and Juliet, no original) é a primeira tragédia de William Shakespeare sobre dois adolescentes completamente apaixonados, cuja a "morte inoportuna" de ambos acaba unindo a família dos dois, que antes eram rivais. É seguramente uma das maiores obras da dramaturgia mundial. Fora traduzida para vários idiomas. Há centenas de adaptações teatrais e cinematográficas da obra(entre os mais populares são os dirigidos por Zeffirelli e Luhrmann). Inúmeras são também as inspirações musicais sobre este drama (sem reminiscência e balé de Tchaikovsky e Prokofiev e o famoso musical West Side Story).
A vida dos dois protagonistas foi assunto de destaque na época e durou séculos. Ainda hoje, o romance dramático de Romeu e Julieta possui um valor completamente simbólico, como se divergesse o tipo do amor perfeito, aquele que suporta os preconceitos e os atritos. O drama shakespeariano nasceu clássico e aqueles que entram em contato com este clássico, logo compreendem uma direta amorosa do sentimento amoroso tão admirável e poético.
Cenas clássicas
Ato II: Inicia com Romeu saltando para dentro do jardim dos Capuletos. Ele encontra-se com Julieta no terraço e, na clássica cena, os dois juram amor um pelo outro. Termina com Frei Lourenço, Julieta e Romeu juntos, preparados para o casamento.
Ato IV: Os Capuleto apressam o casamento de Julieta com Páris. Frei Lourenço a ajuda e sugere que ela tome um elixir e finja-se de morta, pois enviará uma carta à Romeu dizendo para ele retornar e fugir junto com ela.
Ato V: A carta é extraviada e Romeu pensa que Julieta suicidou-se. Ele encontra um boticário e encomenda um veneno. Retornando, Romeu encontra-se com Páris e o enfrenta, derrotando-o. Romeu vai ao encontro do corpo de Julieta e bebe o veneno, morrendo subitamente. Julieta acorda e, desesperada, suicida-se com um punhal que estava presente na bainha de Romeu. A família de ambos, antes rivais, juntam-se para o perdão.

A inspiração para Romeu e Julieta
Romeu and Julieta por Francesco HayezAo contrário do que se acredita, a trama de Romeu e Julieta não foi inventada por William Shakespeare. Na verdade, a peça é a dramatização do poema narrativo de Arthur Brooke: "A Trágica História de Romeu e Julieta" (The Tragicall History of Romeus and Juliet), de 1562. Shakespeare seguiu o poema de Brooke de forma relativamente próxima, mas enriqueceu sua textura adicionando detalhes tanto nos personagens principais quanto secundários, como com Mercutio.
O poema de Brooke também não era original. Em última análise, ele deriva de uma história de 1476, de Masuccio Salernitano, Mariotto e Gianozza, em Il Novelino. Luigi da Porto deu a forma moderna em Istoria novellamente ritrovatta di due Nobili Amanti, dando o nome de Roemeu e Julieta (Romeus e Giulietta) aos personagens principais e mudando a história original de Siena para Verona. Matteo Bandello adaptou a história para incluí-la em Novelle, de 2005. O poema de Brooke é derivado do texto de Bandello.
De modo geral a história de amantes com destino trágico tem paralelos com muitos contos similares em diferentes culturas, incluindo Tristão e Isolda, Pyramus e Thisbe e
outros. Essa história trágica é uma adaptação da história de Brooke.
Estrutura dramática
Shakespeare mostra sua habilidade para o drama livremente em Romeu e Julieta, proporcionando momentos intensos entre a troca de comédia e tragédia. Antes da morte do personagem Mercúcio, no Ato Terceiro, a obra é basicamente uma comédia. Após sua morte acidental, a peça torna-se subitamente séria e passa a assumir um cenário mais dramático. Ainda assim, o fato de Romeu ser banido, em vez de executado, oferece uma certa esperança ao público de que as coisas irão funcionar para os protagonistas. O público ainda tem uma outra razão para acreditar que tudo terminará bem para os dois jovens quando Frei Lourenço oferece a Julieta um plano para que ela viva com Romeu. E então, nesses momentos, todos estão em um estado de suspense; e este suspense se intensifica na abertura da última cena no túmulo: se Romeu deu um longo tempo para o Frade chegar, ele e Julieta ainda poderão ser salvos. Com a morte dos dois, o drama vai chegando ao fim e é justamente com essa cena da morte que o suspense dissolve-se, mais particulamente no momento em que Julieta segura um punhal.
Shakespeare também utiliza subplots para oferecer uma visão mais clarificadora das ações dos personagens principais, e fornecer um eixo em torno do qual gira o primeiro plot. Por exemplo, quando a peça começa, Romeu apaixona-se primeiramente por Rosalina, que recusava todos os seus avanços. A interação de Romeu com ela está evidentemente em contraste com seu amor posterior por Julieta. Isto permite uma comparação entre os dois relacionamentos, através do qual o público pode ver a gravidade do amor e do casamento dos protagonistas Romeu e Julieta. Neste caso, o plot seria a paixão de Romeu por Rosalina. O subplot, entretanto, seria o amor entre ele e Julieta. Sem o primeiro plot, nao existia uma grande confiança entre o relacionamento dos dois personagens principais, visto que Romeu pudesse estar apenas mais uma vez apaixonado, o que não é verdade. O amor de Páris por Julieta também estabelece um contraste entre os sentimentos dela por Romeu, que são apresentados depois das cenas da jovem com Páris. Julieta utiliza uma linguagem demasiada formal com Páris.
Além disso, a maior prova de que os sentimentos entre Romeu e Julieta são verdadeiros é o fato da família de ambos não se darem bem e, mesmo assim, eles insistirem em viver juntos para sempre.

SAGARANA - GUIMARÃES ROSA


Embora seja o livro de estréia de Guimarães Rosa, não é difícil ver em Sagarana esses elementos inovadores que caracterizam o Pós-Modernismo. Com efeito, a pesquisa lingüística e a ânsia do metafísico - que superam o estritamento local e regional - têm sido uma das grandes características pós-modernistas, e aqui, especialmente, de Guimarães Rosa. Entretanto, esses elementos apenas vislumbram em Sagarana, despontando intensa e desconcertantemente no monumental romance - Grande Sertão: Veredas (1956). Podemos dizer que Sagarana foi uma espécie de rascunho que Guimarães Rosa usou para a elaboração de Grande Sertão: Veredas. Na comparação não vai nenhuma subestimação do primeiro livro de Guimarães que, pelo fato de ter sido rascunho, não deixa de ser obra-prima. É a velha história de Adão e Eva que se repete aqui: toda obra-prima tem um rascunho. No caso, o rascunho seria o velho Adão; a obra-prima, a femininíssima Eva... Quem é que vai negar uma coisa desta, minha gente, quem?!

Como sugere o título, Sagarana é uma coletânea de contos estruturados a partir de uma visão moderna dessa espécie literária, pois, embora apresentem os seus elementos tradicionais, os contos de Guimarães Rosa são portadores de “um sopro renovador”, como observa o crítico Massaud Moisés: “Numa linguagem mesclada de tipismos mineiros, eruditismos e arcaísmos, traz para a literatura regionalista um sopro renovador, um senti­do de epicidade e profundo conhecimento da alma humana, que fazem dele, desde logo, um escritor de lugar definitivamente marcado” (Massaud Moisés).
Como já foi ressaltado, Guimarães Rosa foi um dos primeiros entre nós que logrou captar o mundo regional através de um prisma universal: a sua obra veio concretizar a nova dimensão que o regionalismo estava esperando: a dimensão do espírito e do mistério das coisas.